segunda-feira, 9 de novembro de 2009

'O vento e calor no sertão

O bicho num para de esquentá
E quando a gente pensa que passô
O safado inda vem perturbá
Chega num quer nem historia
Esquenta e vai s’embora
Num adianta nem reclamá.

Mas quando passa o vento
é ôtos quinhentos
Você sorrir de exuberância
Se alegra pra muleste
Inté parece uma criança.
Com tanto frescor no corpo
Dá um ar de esperança.

O calor fica puto com o amigo vento
- Quero fazê meu serviço, assim num agüento.
E o vento só passeando
Sorrindo e chêi de argumento:
- Tu é besta ou bebe gás ? Só tô dando uma voltinha,
Nem adianta reclamá, é só uma refrescadinha,
Assim tu lasca meus clientes
Xêu dá menos uma voltinha.

O Calor mais mála ainda.
- Tu se faz é de doido, tá vendo q’essa hora minha,
No Sertão é pôco vento, quem quiser vá pr’uma sobrinha,
Tô aqui só serviçando, fazendo o que é meu dever,
O povo que reclama muito, inté mermo de ocê.

O vento sem sabê da conversa:
- E esse povo fala o que? S’eu só ouço é coisa boa,
‘Ô vento véi arrétado’, diz o povo lá da ‘prôa’
Tu tem muito é migué, e tá doido pra tê fama ,
Só que tu qué mal falado, o povo aqui só me ama.

- O povo fala é mal sim,
dizem que ocê passa e arrasta as coisas,
só vez por outra vem bomzim,
esse povo é muito é besta, perdi casa, planta e rôpa,
mas só reclama de mim.

- Pois bó fazer logo um trato.
Disse o vento sem mardade,
Faz o teu q’eu faço o meu, mas sem tem mais cruzetagem,
tu esquenta o dia todo, fim da tarde eu venho forte
me dê logo sua palavra,assine esse trato de morte

- Quer dizer q’eu vou morrer, se num cumprir com q’eu digo,
Esse trato é furada,
é o que digo meu amigo,
vamo ficá assim mermo, com atrito como sempre
tu tenta me acabar, e tento seguir em frente
E quem sabe essa briga
Possa perdurar pra sempre.

'Allan Nascimento.

Um comentário:

  1. Adorei. Me vi no mêi da conversa! =] E quando li de novo,lembrei daqueles córdeis saca?!
    Muito bom õ/ E ainda bem que tu tá escrevendo com mais frequência.
    Sua fã sempre <3

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